sexta-feira, 5 de junho de 2009

Uma amostra do que está para vir

Não tenho bem a certeza do que é o amor. Em parte,suponho, é um desejo apaixonado, invejoso e irresponsável, que responde à beleza ou à sedução, com afeição e preocupação.


Em parte, é uma força insofismável, que ao invés de depender do valor de outra pessoa, adiciona-lho.


Interrogo-me se é possível amar na ausência de razões, mas também acredito, que sendo o amor uma projecção, o valor original pouco interessa, uma vez que ele lhe é imputado, simplesmente por causa da posição que ocupa como amante.


Suponho que nunca consegui perceber se no amor, o outro é um instrumento ou um destino.


Por um lado, parece-me que, se amo, é porque acredito que o outro tem qualidades nas quais me reconheço, mas também sei, que muitas vezes, aquilo em que uma pessoa acredita, tem menos a ver com a circunstância, do que com as origens motivacionais.


Por outro lado, não posso definir o interesse de uma pessoa, se não for capaz de definir valor. Mas como o amor me torna vulnerável ao que acontece ao outro, transforma a minha percepção, o que acaba por conferir valor a essa pessoa, independentemente das qualidades dela. Dizer que algo tem valor objectivo é torná-la comparável, que é como quem diz, substituível. Mas não é o amor caracterizado pelo facto do ser amado ser insubstituível? Se assim é, então não pode estar baseado simplesmente no valor do outro, mas em qualquer outra coisa, que a coloca acima de qualquer comparação.


No entanto, também não sei se é possível amar alguém por si mesmo, dissociando-a das propriedades, mas sei que não é por tê-las, que passo a amar. Existem muitas pessoas com as mesmas qualidades e amo apenas uma e não todas, pelo que tem de existir uma razão superior à objectividade, embora não saiba responder qual.


Que resíduo invisível é esse, que propriedade desconhecida é essa que nos leva a amar uma determinada pessoa? Ou será que não passa de uma decisão à priori, que recorre à paixão como mecanismo para justificar a energia aplicada no envolvimento?


Há estudos que dizem que a decisão é tomada pelo cérebro e só depois percepcionada e consciencializada. Se assim for, é o nosso inconsciente que nos manipula, impelindo-nos para uma determinada pessoa, num certo espaço de tempo. E por ser inconsciente, eu não consigo entender com exactidão. Acredito que seja isso que leva as pessoas a retirarem conclusões à posteriori, sobre as razões que desconheciam na altura.

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