quinta-feira, 25 de junho de 2009

"Deixaste-me de lágrima no olho"

"Acho que tenho tendência para acreditar que as pessoas são melhores do que são", disse-me ela.

Concordei. A maioria das pessoas pouco mais são que bichos egoístas, invejosos e assustados, quando não mesmo maus.

Se calhar o que há a fazer é ser igual a eles.

"Pois. Mas depois, qual é o sentido da vida?".

Não tem. A não ser aquele que encontrares, adicionado à sorte e à persistência para encontrar alguém que o partilhe connosco.

"Só que para ser inabalável, tens de te afastar dos outros, tornares-te egoísta e frio, e isso é algo que eu não queria".

O irónico é que fazendo isso, não se acaba mais preenchido, apenas mais indiferente. E a indiferença acaba por tornar tudo mais ou menos absurdo. O sentimento de estar vivo desaparece e isso, desconfio, ainda é pior que cair várias vezes com as desilusões que associadas a essas quedas. Se bem que o sentimento de protecção nos leve a evitar situações.

"É a tal espiral".

Da qual não há saída. Outra que não continuar a arriscar e tentar ser menos magoada.

"Porque todas as vezes que sou levada a crer que talvez estivesse enganada..."

É por isso que dói tanto. É por isso que é importante diminuir as expectativas.

" É do cara...."

Mas quanto mais penso no assunto, menos acho que esteja errado. Não consigo pensar que o importante é ser egoísta e mimado, só porque todos os outros o são.

"Mas esse é o mal. É por isso que te perguntava qual é o sentido da vida. tornarmo-nos iguais? Mas qual é o sentido de nos mantermos assim? Para levar porrada?"

Entendo. Mas o dilema é continuar a acreditar mesmo levando porrada, ou desistir e tornar-me indiferente.

"Essa é a minha dúvida. Fossilizo? Ou continuo a ter esperança?"

Não posso responder por ninguém. Eu acredito que vale a pena manter a esperança. Basta ver que ela sentia o mesmo que eu, logo, não estávamos sozinhos. E enquanto houver uma só pessoa que seja que me faça acreditar, vou manter a esperança que vale a entrega, a gratidão e a generosidade são fundamentais.
Porque a indiferença é pior. É morrer em vida. E eu não quero isso. Por mais que toda a gente à minha volta esteja morta, ou me queria matar, não me vou suicidar.

"Pois".

Prefiro arriscar a dor, porque se algum dia encontrar o que procuro, acredito que vou ser recompensado por tudo o que perdi ou sofri. Por isso é que continua a fazer sentido lutar todos os dias e encontrar pequenas coisas e situações que nos façam manter a crença, que algo de melhor haverá para mim, para nós, algures, por aí, e que se deixar de acreditar nisso, é que então nunca irei encontrar. E eu não quero fossilizar. Não tenho vocação para dinossauro.
Porque quando deixamos de acreditar, a dor deixa de fazer sentido e nada é pior que isso. Viver não é fácil.

"Viver é. Saber viver é que não."

Aproveitar o facto de se estar vivo e senti-lo. Se fossilizar, vou deixar de me sentir vivo e para mim isso é insuficiente. Preciso de mais do que simplesmente sobreviver.

"Obrigado pelas palavras animadoras. Deixaste-me de lágrima no olho".

Porque enquanto houver uma só pessoa, não estamos sós. E enquanto assim for, faz sentido continuar a acreditar.

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