terça-feira, 30 de junho de 2009

Crónica 1, Dia 0

Quando decidi que ia passar a conhecer-me, morri. Desde então tenho estado morto. Morto para o mundo, vivo para mim. Compreendi que para se viver, primeiro é preciso morrer. Acreditei. E para me criar, tive que me destruir.

Esqueci o passado. Destruí o que era para renascer das minhas contradições. Passei a ter uma existência própria.
Mas como o mundo nunca vê as transformações até estas estarem concluídas, não viu a existência que passei a ter. Porque esta existência era só minha. Fiquei sozinho. E assim passei a ser singular.
Depois de morto, passei a viver. E quando fiquei sozinho, apareceram os outros que também tinham ficado. E não tendo mais anonimato, anódinos nos tornámos. Quando tudo deixou de existir, passámos a existir somente nós. Um mundo próprio, habitado por mortos. E os mortos não têm vontade. Já nada têm a esperar. Quem não espera, não questiona. Só assim a sociedade proporciona aos seus vivos, aquela vida de mortos.

Os mortos vivos, viciosos e arrogantes.

Estou a ralar-me, tão especial coisa é, que nem bem sei que estou sentindo. Reasseguro-me por mim só.
É estranho como mova a minha vida em dias, para não ficar intoxicado com as horas.
Prefiro assim.
Conhecer é pior. É dar importância ás coisas. E eu não quero ser importante. Não quero pretensões, só quero estar, e para isso tenho de ser despretensioso. Prefiro o anonimato.
Quero permanecer na ignorância.
Não quero dar e para tal aceito não ter de receber.
Não quero alucinações paranóicas de pecados que não cometi.
Ao viver todos os dias, não sou bonito nem feio. A solidão ensinou-me a comer peixe á 6ª feira. Não quero deixar de o fazer, porque não quero pensar no que fazer em alternativa. Não me interessa conhecer, para a seguir deixar de existir. Quero um expoente camuflado de vertigem. Quero existir somente, sem sequer compreender o que faço.

Todas as horas permanecem ridículas até serem nossas.
A indiferença é maior verdade da natureza.
Soam-me aos ouvidos, relatos de profetas.
Se não estivesse demasiado cansado de pensar, até escolhia agora um projecto de vida.

A qualquer hora, em qualquer lugar, não interessa onde, em todo o lado, sei que estou lá. Não adiante disfarçar. Pulsa-me nos ouvidos. Toca-me nos dedos. Dá vida a tudo o que mexe. A tudo o que vem, a tudo o que vai. Toda a gente o sabia, toda a gente o sabe. Amo-te. És o expoente dos meus sentidos, das minhas emoções. És a razão do meu ser, por seres a razão do meu sentir. Porque vivo o que sou, sou o que sinto, e o que sinto, é que consigo ser em ti.

Sem comentários:

Enviar um comentário