quarta-feira, 22 de julho de 2009

A minha última criação

O homem bala

Desde pequenino que tudo o que ele quis ser foi homem bala. Desde que, aos 3 anos, viu pela primeira vez o homem a sair de um canhão. Ficou encantado. Afinal, os homens também voavam, desde que com o impulso certo. E foi vê-lo, desde os 6 anos, a correr todos os dias para o local de ensaio, para ver o canhão disparar as suas munições humanas.
Quando aos 12 anos o homem bala residente do circo morreu como consequência de um cálculo de queda mal feito, surgiu a oportunidade que tanto desejava. Apresentou-se no circo convencido que podia ocupar o lugar deixado vago. O dono do circo olhou para ele e achou-o muito novo. Mas precisava de alguém para o lugar e o moço quase que pagava para desempenhar a função. Argumentou que não se devia impedir alguém de atingir os seus sonhos. E deu o lugar ao rapaz, que duas semanas depois, estava a ser disparado pelo canhão.
O problema como o homem que acertava a calibração do tiro tinha morrido e sido substituído por outro que não conhecia o significado da palavra, quanto mais acertar com ela. Mas toda a vida tinha trabalhado com o homem bala e o dono do circo convenceu-se que ele devia saber. O tiro só não saiu pela culatra, porque a potência foi muito além do programado, e logo no seu primeiro tiro, o jovem ficou espetado em cima de um espectador. Por sorte, nenhum morreu, mas acabaram no hospital.
Como uma sorte nunca vem só, o tipo em quem o jovem aterrara em cima, era comerciante de ostras e andava à procura de um ajudante. O rapaz achou que com as duas pernas partidas ia tardar até estar em condições de ser disparado de novo e aceitou, na sua cabeça temporariamente a apenas com o objectivo de garantir o seus sustento, o emprego na apanha das ostras, apanha essa que se veio a revelar altamente frutífera, quando um grupo de traficantes contactou o pescador, a fim de utilizar as ostras para traficar droga, que tão bem ficava, acomodadinha dentro das mesmas.
E o jovem deu por ele, rico, com 18 anos, pois o negócios correu muito bem. Quando se viu milionário aos 18 anos, o jovem satisfez o seu maior desejo de sempre: mandou construir um gigantesco canhão em ouro, e no dia que fez 19 anos contratou um tipo para acender o rastilho que o levou muito para lá de qualquer tiro de canhão alguma vez feito, por qualquer homem bala.

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