quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Numa manhã de nevoeiro

A – Bem!, está cá um nevoeiro!
B - Daqui a pouco aparece o D. Sebastião.
C – Nesse caso é melhor não virarmos as costas.
B – Porque é que dizes isso?
C – Porque o gajo preferiu ir levar de árabes para o deserto do que ficar a comer cortesãs em Lisboa! Com tais prioridades, o que é que te parece que ele era?
B – Visto por esse prisma...
C – Ah pois é meu amigo. Não tarda nada e aparece aí a enrabar-nos aos 3.
B – Nesse caso eu fico para último. Pode ser que lhe passe a vontade depois de vos aviar aos 2.
C – Hum, com 500 anos de espera, acho que não te safas. E tu até és o mais rechonchudinho, és logo o primeiro.
A – Ficas todo assado.
C – Até tens direito a uma maçã na boca, que é para o protocolo.
A – Que no deserto não há porcos.
B – Mas afinal porque é que ele foi para o deserto?
C – Porque sofria de taquicardia.
B- Mas o ar do deserto é péssimo para as taquicardias!
A – Se calhar foi por isso que ficou por lá!
C – Na volta era também masoquista.
B - Também?
C - Para além de paneleiro.
A – Foi um desperdício, é o que foi.
C – Pois claro; onde é que já se viu um homem com tão pouca saúde ir gastar a pouca que lhe resta no deserto?
B – Mas ele era doente?
C – Já te disse! Sofria de taquicardia!
B – Oh.
A – A sério! Foi quase tão mau para a saúde dele como foi para nós a restauração da independência.
B – Para nós?
A – Sim. Já olhaste bem para a Espanha? Não te parece que estávamos bem melhor como espanhóis?
B – Mas a independência é um feito histórico!
C – Também o Nazismo.
B – Não podes comparar.
C – Não comparo. Só acho que quem fez a restauração tinha os amigos errados.
A – Não foi um gajo, foi uma gaja.
C – Não me espanta! O último também só fez borrada!
B – Qual último?
C – O paneleiro!
B – O D. Sebastião?
C – Sim! Foi ele que perdeu a independência!
A – Pois. O paneleiro.
B – Mas porque é que vocês dizem que ele era paneleiro?
C – Não se casou, pois não?
B – Também era novo!
C – Mais uma razão para ficar cá a comer gajas ao invés de mouros montados.
A – Aliás, foi o facto deles estarem montados que o atraiu para lá!
C – E tu ainda duvidas que ele era paneleiro?
B – Parece-me que vocês estão a exagerar.
A – Quer dizer; tivémos um rei.
C – Sim, mas ela é que usava as calças, que ele andava de saias.
A- Mas eu acho que esse não era paneleiro.
C – Andava de saias?
A – Andavam todos de saias.
B – Porquê? Não havia alfaiates?
C – Claro que havia! Caso contrário quem é que faria as saias?
A – Ó miúdo; era uma questão de moda!
B – Não havia calças?
A – Sim. Mas eram tipo collants.
C – Também era uma coisa assim meio bicha.
B – Mas andavam todos de saias?
A – Não. Alguns andavam de collants.
B – Mas devia haver calças sem serem collants, não?
A – Sim. A plebe andava com calças. Mas era sarrapilheira. Era péssimo. Dava cabo dos tomates.
C – Se calhar é por causa disso que os tomates são enrugados!
A – Isso não faz sentido nenhum. A sarrapilheira não faz rugas na pele!
C – Bom, mas nesse caso deviam ser bem rijos, para resistir à fricção!
B – Isso não devia dar jeito nenhum na cama; vocês já imaginam os colhões duros a bater em cheio?
A – Nessa altura as gajas também eram rijas!
C – Era tipo castanholas.
A – Os filmes porno passavam a vender as bandas sonoras.
B – Sexo não é uma orquestra.
C – Bem, mas eu quando me venho até canto!
B – Daqui a pouco estão a transformar a música em pornografia.
C – Já faltou mais! Já viste os telediscos? Há filmes porno com gajas mais vestidas.
B – Quer dizer: a música está lá só para acompanhar as gajas a despirem-se!
A – E nem sequer é preciso um poste!
C – Seja como for, isso é que seria uma diferença.
B – Olha, vem lá a nossa boleia.
A – Já não era sem tempo. Estou gelado. Daqui a pouco quem está a bater castanholas sou eu, mas com os dentes.
C – Pena que não seja como dantes; se fosse, a esta hora, estavas a ter um orgasmo.

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