quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Aconteceu no passado dia 15

O tipo gostava.
De tudo o que ela dizia.
Qualquer um gostaria.
De ser convidado.
Que alguém se sentisse fascinado.
Ah!, pois, já mo tinham dito.
Ficar atordoado.
Tipo objecto.
Tipo pássaro.
Assim por assim, não.
Deve ser estranho ficar de lado.
Ele amava-a. Passou-se.
Para o outro lado.
Foi uma vergonha.
Caíu sozinho.
Havia mais que não foram convidados para a festa.
Mesmo depois dele lhe ter dito tudo.
Foi uma conversa de mudos.
Houve carne, ao menos?
Vegetarianos.
Comiam ovos, portanto. E como ouviste dizer? Foste?
Fui.
Não pensaste sequer em dizer uma única palavra?
Calei-me.
Havia silêncio?
Um tipo cantava, bêbado.
A sonhar com deusas no deserto?
Eram mais tempestades no paraíso.
Na água vem a vida!
É um facto.
E quem chorou?
O tipo que estava a sangrar.
Tudo para tentar vê-la?
Não só vê-la, matá-la.
Caiu numa armadilha.
Foi ensaboado devagarinho.
Só assim?
Ficou sozinho.
Com a cabeça aberta.
O verdadeiro amor espera, disse-lhe ele.
E beberam alguma coisa?
Cantaram em árabe.
Em berbere?
Só em espírito.
Havia muita coisa para uma festa no deserto.
Um dinamarquês apareceu lá a filmar toda a gente.
Havia um que dizia que sonhava com o amor preso á pele.
Não trouxeste dessa droga que ele tomou?
É o que estás a fumar.
Estou a ver porque ele acreditava no amor.
Não tinha confiança em mais nada.
E então ele apareceu?
Falou.
Ela respondeu...
Disse-lhe sem lógica que tinha chegado o fim.
E ele disparou.
Só ficou ali a ouvir o que ninguém tinha a dizer.
Era o fim da esperança.
Sim. Falhou o tiro.
Acertou no que sangrava.
O pobre que acreditava no amor, foi morto por causa dele.
Um amor que nem era o dele.
Tinha chegado a hora do Orfeu, nada mais tinha a dizer.
Foram nadar todos juntos, os que ficaram.
Quando alguém os convidou a esquecerem os dois corpos.
Com uzzis.
Compradas a algum traficante judeu que trabalhava nas obras.
Desfizeram-nos.
Menos ele.
Ele ficou na casa a sonhar com amor verdadeiro.
A olhar para ela.
Até o outro lhe desfazer a cabeça.
E ela ficou sozinha?
Chorou depois de cair o muro.
Ele não tinha sido convidado.
Eram tribos rivais.
Só até a ter descoberto.
Mas de nada serviu. Todos morreram.
Certo, certo, é que ninguém morreu afogado.
Nem por excesso de brilho?
Não sobrou ninguém.
Ficou só ela.
Na sua casa.
Com os mortos entre os braços.
Eles tinham-se conhecido num concerto.
E depois vieram as tretas de se flutuar como uma pena.
Um mundo bonito.
Com ambos a acharem-se especiais.
Pelo menos, um para o outro.
Não havia ali pertenças nenhumas.
Não havia controlo.
Ignorou-se tudo.
O tipo era um cretino.
Ela não pertencia ali.
Não havia mais nada a dizer.
Ela chorou nessa noite.
Ficou só ela viva.
Com bactérias e infecções.
A morte é uma porcaria.
Era lógico que queria morrer.
Tinham-se baseado num livro.
O gerente da loja à espera dela.
Ele tinha um cabriolet.
Carreira de sucesso.
Mulher e um filho.
Putanhices.
Divórcio.
Era bom na cama.
Ela gostava.
Ela gostava de muitos.
Mas ele gostava era dela.
Ele nem sabia.
Nem queria saber.
Até que os apanhou.
Não ficou com o outro?
Não havia outro. A outra era divorciada.
Tudo muito bem sucedido.
Festas da não gravata.
Uma em cada noite.
Todos bêbados foram nadar.
O do cabriolet não foi.
Ela ardeu com outro.
Não havia televisão.
Nem jornais.
Foi só foder.
E houve um fim?
Quando morreram.
Cada um à sua maneira.
Eram fascinantes.
Cada um por si.
Rezaram.
Por algo puro e singelo.
Para ele.
Para ela.
Quem ouvia voz dela quando falava.
Nunca tinha sido adorada daquela forma.
Sentiu dor por ele.
Ela viveu.
Houve sangue.
E coisas que não se viram.
Tu, eras como eu.
Leva contigo a dor que eu sinto.
Assim ninguém te vai adorar.
Ela chorou por ele.
Ele chorou por ela.
Houve dores de cabeça.
Acusações.
Atentados.
A cidade dividiu-se.
Os gerentes comerciais deitaram fora as gravatas.
35.000 mortos.
Os rivais desfizeram-se depois da matança.
Foram os doentes que escaparam.
Como nós.
Houve fraude.
Ela morreu de fome na prisão.
Qualquer coisa presa na garganta.
Engasgou-se. Não podia comer.
Morreu estranhamente excitada.
Ninguém lhe quis lavar a alma.
Queimaram a igreja.
Deixou de haver convites para quem quer que seja.
A cidade morreu.
Agora há só uma.
Dividida em duas ilhas.

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