quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Pensando no que fiz...

...acho que não podia ter acontecido de outra forma. Não lhe dei opção. Forcei-a à ruptura pela forma precipitada com que me deixei envolver-me numa relação com uma mulher que não queria o mesmo que eu. É um erro, eu sei. Um erro que nunca antes tinha cometido. Mas não consegui conter-me. Amei-a profundamente, com um sentimento incontrolável, que condenou a relação evoluir, impedindo-a de evoluir pelo conhecimento e pela partilha.
Reconheço isso. Que a inabilidade foi minha. A crueldade e ingratidão com que ela respondeu, foi a defesa dela à pressão.

Descontrolei-me. Comportei-me como uma criança perdida e desorientada. Reconheço isso hoje. Mas o que está feito, feito está e tudo o que posso fazer é arrepender-me e não repetir o erro.

Quando penso nisso hoje acho que nós nunca chegámos a conhecer-nos.
Nem eu sei para além do superficial o que ela é, nem ela conhece minimamente o que eu sou, como pessoa e como homem.

Mas hoje sei porque gostei dela. É uma miúda querida, boa pessoa, bem formada, uma mulher linda que anda de cabeça para cima, sensível e inteligente. Naturalmente é também insegura, frágil, susceptível, tímida e com alguma dificuldade em esquecer o que não consegue deixar de lembrar. É também um pouco mimada, coisa natural numa pessoa que está habituada a ter tudo o que quer.

Infelizmente a relação morreu, porque na verdade, não há nada de comum a promover a proximidade e sem proximidade, não faz sentido ter relações.

Mais do que amizade, procuro intimidade e isso é algo que ela não tem para me dar.
Costuma-se dizer que toda a gente deve cometer um erro pelo menos uma vez na vida, mais que não seja para experimentar.
Eu já cometi o meu e já aprendi com ele.
E sosseguei a ansiedade a partir do momento em que me fiz lúcido, de novo. E toda a gente sabe que não há como manter uma relação com alguém que não quer nem pode dar aquilo que queremos.

A vida está cheia de coisas que num momento parecem indispensáveis e no momento seguinte desaparecem para não mais voltarem.

Assim foi

Até começámos bem, naquele jogo do toca e foge. A princípio é assim mesmo. Faz-se o que se quer e ninguém tem de ser culpado por isso. Eu dei, ela recebeu, retribuíu, aceitei. A coisa avançou, até chegar àquele momento em que as pessoas, no caso nós, ou nos envolvemos ou nos afastamos. Afastei-me. Mas ela não me quis deixar ir. E eu, como na verdade não queria assim tanto ir-me embora, voltei. Se não nos iriamos afastar, iriamos envolver-nos. Pensava eu. Por isso continuei a dar. E ela a receber. E a retribuir. E a coisa continuou a andar. Mas de tanto andar, estagnou. Eu, curioso e interessado, tentei fazer a relação evoluir. Apertei um pouco. Ela ai fugiu, sem sequer responder. Limitou-se a desaparecer, talvez com medo do que estava a sentir e por certo com medo do que teria de assumir. É o que dá envolvermo-nos com garotas.

Ontem pensei suicidar-me

Mas depois não me apeteceu escrever nenhuma carta de despedida e por isso guardei a ideia para outra altura, porque suicídio sem carta, não é digno.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Mamas

1 – O que é que tu estás a fazer! Veste lá isso! Não quero ver as tuas mamas.
2 – Mas, mas, disseram-me que queria fotografá-las?
1 – Estou aqui para fotografar soutiens, e para isso preciso que metas as mamas dentro dele.
2 – Mas dentro do soutien, depois não se vêem as mamas!?
1 – Exacto! É ess o objectivo.
2 – Porquê? Não gosta das minhas mamas?
1 – Não estou aqui para gostar ou deixar de gostar. Já escolheram as tuas, calculo que devem merecer ser mostradas, mas eu agora não as quero ver.
2 – Porquê? É gay?
1 – O que é que isso agora tem a ver?
2 – Está a dizer que não gosta das minhas mamas!
1 – Mas quem é que te disse que não gosto?
2 – Está a dizer-me que não as quer ver!
1 – Ouve, se fizeres muita questão, podes mostrar-mas depois, mas agora precisamos de trabalhar.
2 – Mas o meu trabalho é mostrar as mamas!
1 – Pois, calculo que sim; mas o meu não.
2 – Então e agora o que é que eu faço?
1 – Fazes o que eu te digo.
2 – Estou a ver que não gosta das minhas mamas...
1 – A beleza das tuas mamas não está em casa.
2 – Isso quer dizer que gosta delas?
1 – Estou certo que devem ser muito interessantes.
2 – A sério?
1 – Querida, é uma força de expressão, não a leves muito a sério. Agora faz o que te pedi e vamos trabalhar, está bem?
2 – Não gosta de mim?
1 – Nem te conheço.
2 – Mas eu estou aqui.
1 – Sim, mas é a primeira que te vejo.
2 – E não quer ver-me mais?
1 – Se não paras com as perguntas, não vamos conseguir despachar isto nunca.
2 – Mas eu gostaria de conhecê-lo melhor.
1 – Minha querida, isso faz-se a conversar, não a foder.
2 – Mas eu nunca fui de falar muito...
1 – Tens sempre a boca ocupada, não é?
2 – Nem sempre; às vezes apenas...
1 – Deixa. Deixa. Não quero saber onde metes a boca.
2 – Oh; eu só ia dizer que às vezes não falo mais porque não sei o que dizer.
1 – E nesse caso fazes muito bem em manter a boca calado, que é exactamente o que não estás a fazer agora.
2 – Está farto de mim?
1 – Não mulher, mas quero trabalhar.
2 – Certo. Que faço então?
1 – Para começar, vestes o soutien.
2 – E não é para mostrar as mamas, certo?
1 – Pois, não é. Tenho a certeza que as sabes mostrar muito bem, mas depois, está bem?
2 – Isso quer dizer que depois vê as minhas mamas?
1 – Que fixação com as mamas, mulher!
2 – Tenho orgulho nelas.
1 – Já percebi!
2 – Acha que não devia?
1 – Isso é lá contigo.
2 – Mas, se não o fizer, ninguém me vai dar emprego.
1 – Pois, estou a ver. Então nesse caso, é melhor continuares.

Aconteceu no passado dia 15

O tipo gostava.
De tudo o que ela dizia.
Qualquer um gostaria.
De ser convidado.
Que alguém se sentisse fascinado.
Ah!, pois, já mo tinham dito.
Ficar atordoado.
Tipo objecto.
Tipo pássaro.
Assim por assim, não.
Deve ser estranho ficar de lado.
Ele amava-a. Passou-se.
Para o outro lado.
Foi uma vergonha.
Caíu sozinho.
Havia mais que não foram convidados para a festa.
Mesmo depois dele lhe ter dito tudo.
Foi uma conversa de mudos.
Houve carne, ao menos?
Vegetarianos.
Comiam ovos, portanto. E como ouviste dizer? Foste?
Fui.
Não pensaste sequer em dizer uma única palavra?
Calei-me.
Havia silêncio?
Um tipo cantava, bêbado.
A sonhar com deusas no deserto?
Eram mais tempestades no paraíso.
Na água vem a vida!
É um facto.
E quem chorou?
O tipo que estava a sangrar.
Tudo para tentar vê-la?
Não só vê-la, matá-la.
Caiu numa armadilha.
Foi ensaboado devagarinho.
Só assim?
Ficou sozinho.
Com a cabeça aberta.
O verdadeiro amor espera, disse-lhe ele.
E beberam alguma coisa?
Cantaram em árabe.
Em berbere?
Só em espírito.
Havia muita coisa para uma festa no deserto.
Um dinamarquês apareceu lá a filmar toda a gente.
Havia um que dizia que sonhava com o amor preso á pele.
Não trouxeste dessa droga que ele tomou?
É o que estás a fumar.
Estou a ver porque ele acreditava no amor.
Não tinha confiança em mais nada.
E então ele apareceu?
Falou.
Ela respondeu...
Disse-lhe sem lógica que tinha chegado o fim.
E ele disparou.
Só ficou ali a ouvir o que ninguém tinha a dizer.
Era o fim da esperança.
Sim. Falhou o tiro.
Acertou no que sangrava.
O pobre que acreditava no amor, foi morto por causa dele.
Um amor que nem era o dele.
Tinha chegado a hora do Orfeu, nada mais tinha a dizer.
Foram nadar todos juntos, os que ficaram.
Quando alguém os convidou a esquecerem os dois corpos.
Com uzzis.
Compradas a algum traficante judeu que trabalhava nas obras.
Desfizeram-nos.
Menos ele.
Ele ficou na casa a sonhar com amor verdadeiro.
A olhar para ela.
Até o outro lhe desfazer a cabeça.
E ela ficou sozinha?
Chorou depois de cair o muro.
Ele não tinha sido convidado.
Eram tribos rivais.
Só até a ter descoberto.
Mas de nada serviu. Todos morreram.
Certo, certo, é que ninguém morreu afogado.
Nem por excesso de brilho?
Não sobrou ninguém.
Ficou só ela.
Na sua casa.
Com os mortos entre os braços.
Eles tinham-se conhecido num concerto.
E depois vieram as tretas de se flutuar como uma pena.
Um mundo bonito.
Com ambos a acharem-se especiais.
Pelo menos, um para o outro.
Não havia ali pertenças nenhumas.
Não havia controlo.
Ignorou-se tudo.
O tipo era um cretino.
Ela não pertencia ali.
Não havia mais nada a dizer.
Ela chorou nessa noite.
Ficou só ela viva.
Com bactérias e infecções.
A morte é uma porcaria.
Era lógico que queria morrer.
Tinham-se baseado num livro.
O gerente da loja à espera dela.
Ele tinha um cabriolet.
Carreira de sucesso.
Mulher e um filho.
Putanhices.
Divórcio.
Era bom na cama.
Ela gostava.
Ela gostava de muitos.
Mas ele gostava era dela.
Ele nem sabia.
Nem queria saber.
Até que os apanhou.
Não ficou com o outro?
Não havia outro. A outra era divorciada.
Tudo muito bem sucedido.
Festas da não gravata.
Uma em cada noite.
Todos bêbados foram nadar.
O do cabriolet não foi.
Ela ardeu com outro.
Não havia televisão.
Nem jornais.
Foi só foder.
E houve um fim?
Quando morreram.
Cada um à sua maneira.
Eram fascinantes.
Cada um por si.
Rezaram.
Por algo puro e singelo.
Para ele.
Para ela.
Quem ouvia voz dela quando falava.
Nunca tinha sido adorada daquela forma.
Sentiu dor por ele.
Ela viveu.
Houve sangue.
E coisas que não se viram.
Tu, eras como eu.
Leva contigo a dor que eu sinto.
Assim ninguém te vai adorar.
Ela chorou por ele.
Ele chorou por ela.
Houve dores de cabeça.
Acusações.
Atentados.
A cidade dividiu-se.
Os gerentes comerciais deitaram fora as gravatas.
35.000 mortos.
Os rivais desfizeram-se depois da matança.
Foram os doentes que escaparam.
Como nós.
Houve fraude.
Ela morreu de fome na prisão.
Qualquer coisa presa na garganta.
Engasgou-se. Não podia comer.
Morreu estranhamente excitada.
Ninguém lhe quis lavar a alma.
Queimaram a igreja.
Deixou de haver convites para quem quer que seja.
A cidade morreu.
Agora há só uma.
Dividida em duas ilhas.

Uma conversa típica

E - Porra!, nunca acreditas em mim!
A - Não estou a dizer que não acredito em ti.
E - Só não aceitas!
A - Não estou a dizer que não aceito.
E - As coisas são o que são! Já está na altura de nos deixarmos de inocências.
A - Não discordo, só que...
E - Só que o quê?
A - Percebe que eu não sei bem...não estou habituada!
E - A quê? À sinceridade?
A - Talvez...
E - Lamento que te sintas constrangida. Confesso que sempre achei que já tinhas compreendido.
A - Não é o que disseste! É a forma como o disseste.
E -Só disse que adorava aparecer contigo em público!
A - Não foi só isso que disseste.
E - Ouve, é verdade. Não és a mais inteligente das mulheres que conheci mas adorava o teu corpo..
A - E não achas que isso não é razão para ficar chateada?
E - O teu corpo também é uma coisa tua.
A - Pelos vistos, não o suficiente.
E - Não fui eu que te deixei.
A - Não me deixaste outra oportunidade.
E - Nunca acreditaste que eu te amava.
A - Talvez porque tudo o que me deste a entender é que amavas o meu corpo, não eu.
E - Não. Quanto muito o que te disse é que em ti, preferia o teu corpo; é diferente!
A - Vai dar ao mesmo.
E - Não, não vai. O que eu disse foi que o teu corpo foi o que mais me impeliu para ti. E amar em parte é aprender a gostar.
A - Ou gostas ou não. Não adianta simular.
E - E tu, em algum momento chegaste a amar-me?
A - Claro que sim!!
E - Então o que te chateou mais? Amares um bruto, ou aquilo em que te tornaste por amares um?
A - Não é nada disso que eu estou a dizer.
E - Então não sei o que estás a dizer. Ouve, fiquei contigo por algo que era teu.
A - Não é isso que está em causa!
E - Bom, então nesta altura já não faço a mínima ideia do que está em causa.
A - O que está em causa e achares-me uma burra e mesmo assim estares comigo. Dizes-me que sou uma burra, mas que como sou uma burra bonita tu ficas comigo.
E - Onde é que nas minhas palavras estou a dizer que és uma burra?
A - Naquilo que me estás a chamar.
E - Que é?
A - Fútil. E se isso para ti chega, então não és o homem que eu pensava que eras.
E - Só depois de te conhecer posso amar-te pelo que és. Até lá só te posso amar pelo que pareces ser.
A - Mas não saíste dessa fase.
E - Não me deste tempo.
A - Não percebes como me sinto fragilizada ao ouvir-te dizer que o queres de mim é o meu corpo?
E - Não é só o corpo! Quantas vezes tenho de repetir!!? Continuo a gostar dos momentos que passava contigo. Sempre dei importância ao que tu fazias, sempre te observei, sempre te ouvi. Sempre dei importância ao que tu me dizias. Nunca me furtei a conversas.
A - Neste momento já acho que era só para me entreter.
E - Não te entendo: se te digo que não és a mulher mais brilhante que conheço, dizes-me que te estou a chamar de burra. Se eu digo que me apaixonei pelo teu corpo, criticas-me por me satisfazer com pouco. Se vamos continuar a jogar às acusações, acho melhor esta noite ficar por aqui.
A - Queres que eu me vá embora?
E - Não estou a meter-te na rua.
A - Estás só a insinuar que é melhor.
E - Estou a dizer o que sinto.
A - Se queres que te diga, até és capaz de ter razão. Não vale mesmo a pena continuar com esta discussão. Já acabou mesmo tudo entre nós, de vez, não acabou?
E - Queres que te diga o que sinto, ou queres que concorde contigo?
A - Às vezes acho que só queres é dar-me uma razão para te começar a odiar.
E - Às vezes sinto que preferia que isso acontecesse.
A - Eu preferia que nada disto tivesse acontecido.
E - Nem as partes boas?
A - Não; essas sim. As outras é que não.
E - Preferias o quê? Uma vida convencional?
A - Porquê? Parece-te assim tão mal?
E - As coisas tomaram o rumo que tomaram.
A - Porque tu nunca te entregaste, nunca foste capaz de te abrir comigo, de estares à vontade.
E - É portanto, uma incapacidade minha...
A - E não é?
E - Se tu o dizes.
A - Lá estás tu outra vez a ser cínico.
E - Lembras-te de quantos telefonemas teus recebi, a informares-me que estava tudo acabado entre nós, para no dia seguinte voltares a pedir desculpa?
A - Porque tu nunca percebeste que isso só acontecia porque eu te amava. Viver contigo é como viver com um furacão. Guardas as emoções até rebentar. Num momento estava tudo bem, no outro logo a seguir ficavas todo frio e distante.
E - Nunca te queixaste disso.
A - Não tinha de o fazer. É uma coisa suficientemente importante para teres de descobrir por ti mesmo.
E - Querias que eu subentendesse algo que nunca deste a entender.
A - É assim que eu entendo o amor: quando se gosta mesmo, tem-se sempre atenção. E tendo-se atenção, uma pessoa apercebe-se do que a outra quer. Se não fores capaz, então é porque não és a pessoa certa para estar comigo.
E - É. Se calhar não sou.
A - E nem dúvidas tens, sequer?
E - Tu tiveste-as?
A - Sempre gostei de ti. Continuo a gostar.
E - Já sei. Eu é que não correspondi o suficiente.
A - E não.
E - Sabes que podes cortar com o passado, mas que o passado não corta contigo.
A - Eu sei. Mas já me habituei à ideia de seres passado. Tu nunca conseguiste acreditar que eu te amava mesmo.
E - Fizeste muito pouco para mo dar a entender.
A - Bolas! Saí de casa do meu namorado, com quem vivia à 6 anos para ir viver contigo. Não te parece suficientemente expansivo?
E - Agora a esta distância, claro que sim, mas na altura...sempre foste tão frágil.
A - E tu nunca me soubeste proteger.
E - Ao contrário do que possas pensar, sempre tentei proteger-te. Apaixonei-me pela tua fragilidade.
A - Então porque é que nunca o disseste? Porque raio te calavas, não dizias o que querias!? Ainda hoje acho que tens imenso para dar, mas que estás à espera que aconteça sei lá eu o quê.
E - Se calhar ainda tenho receio de assumir alguns desafios.
A - Não entendo é porque numas coisas assumes logo os desafios e noutras desatas a fugir.
E - Fujo daquilo que conheço mal.
A - Tens medo de ti próprio é o que é. E não consegues perceber que é nisso do qual foges que está sentido. E tu foste capaz de fazer coisas tão bem feitas, tantas vezes; tinhas momentos de tal brilhantismo...e eu sempre me senti frustrada por comigo não seres tão dedicado...Cheguei a sentir inveja dos teus amigos; com eles tinhas uma felicidade que nunca consegui que tivesses comigo.
E - Também te pedi pouco.
A - Isso é o que tu pensas. Viver contigo é pedir muito.
E - Só que eu não peço.
A - És uma besta emocional, é o que és.
E - E tu és susceptível.
A - E tu ignoras os sentimentos dos outros, até daqueles que vivem contigo.
E - Sabes lá. Viveste comigo um ano, não a vida toda.
A - Tens medo de gostar das pessoas.
E - Segundo os teus parâmetros.
A - E orgulhaste disso?
E - Tu é que puxaste a conversa. Estou só a responder-te.
A - Estás a desculpar-te de algo?
E - Não vejo que erro possa agora ter cometido para me estar a desculpar.
A - Estás a dizer que eu fui um erro?
E - Estou a dizer precisamente o contrário.
A - Não te arrependes de não ter feito mais?
E - Talvez.
A - O importante é o antes, não o depois.
E - Tu lá sabes...
A - Lá estás tu a oferecer-me vitórias por condescendência.
E - Mais vale estas que nenhumas.
A - És um orgulhoso. E por causa desse ter orgulho é que nunca foste capaz de perceber que eu queria mas estava indecisa. Sabes o que isso significa?
E - Que não querias nem deixavas de querer.
A - Estás a ver!
E - O quê?
A - A forma como tu metes as coisas. Não quero ficar chateada contigo...
E - Não tens de ficar. Não deu. É tudo.
A - Mas eu queria que tivesse dado...
E - Mas não deu.
A - Nunca é estúpido deixares-te levar pelas emoções. É por causa de pensares que o é, é que nunca te permites fazê-lo.
E - Culpas-me por algo que revela que acima de somos de tudo incompatíveis.
A - Aceitarias-me de volta?
E - Não me vou dar a esse prazer.
A - Porquê?
E - Porque sei que não ficas.
A - Se me amasses, não dizias isso.
E - Prefiro recordar-te.
A - Já sou assim tão parte do teu passado?
E - Sabes que eu sempre vivi tudo muito rápido.
A - E para onde pensas agora dirigir essa tua rapidez?
E - Logo se vê. Sabes que eu nunca fui mesmo capaz de me comprometer como uma só coisa.
A - Foste feliz comigo?
E - Que importância pode ter isso agora?
A - Toda.

Numa manhã de nevoeiro

A – Bem!, está cá um nevoeiro!
B - Daqui a pouco aparece o D. Sebastião.
C – Nesse caso é melhor não virarmos as costas.
B – Porque é que dizes isso?
C – Porque o gajo preferiu ir levar de árabes para o deserto do que ficar a comer cortesãs em Lisboa! Com tais prioridades, o que é que te parece que ele era?
B – Visto por esse prisma...
C – Ah pois é meu amigo. Não tarda nada e aparece aí a enrabar-nos aos 3.
B – Nesse caso eu fico para último. Pode ser que lhe passe a vontade depois de vos aviar aos 2.
C – Hum, com 500 anos de espera, acho que não te safas. E tu até és o mais rechonchudinho, és logo o primeiro.
A – Ficas todo assado.
C – Até tens direito a uma maçã na boca, que é para o protocolo.
A – Que no deserto não há porcos.
B – Mas afinal porque é que ele foi para o deserto?
C – Porque sofria de taquicardia.
B- Mas o ar do deserto é péssimo para as taquicardias!
A – Se calhar foi por isso que ficou por lá!
C – Na volta era também masoquista.
B - Também?
C - Para além de paneleiro.
A – Foi um desperdício, é o que foi.
C – Pois claro; onde é que já se viu um homem com tão pouca saúde ir gastar a pouca que lhe resta no deserto?
B – Mas ele era doente?
C – Já te disse! Sofria de taquicardia!
B – Oh.
A – A sério! Foi quase tão mau para a saúde dele como foi para nós a restauração da independência.
B – Para nós?
A – Sim. Já olhaste bem para a Espanha? Não te parece que estávamos bem melhor como espanhóis?
B – Mas a independência é um feito histórico!
C – Também o Nazismo.
B – Não podes comparar.
C – Não comparo. Só acho que quem fez a restauração tinha os amigos errados.
A – Não foi um gajo, foi uma gaja.
C – Não me espanta! O último também só fez borrada!
B – Qual último?
C – O paneleiro!
B – O D. Sebastião?
C – Sim! Foi ele que perdeu a independência!
A – Pois. O paneleiro.
B – Mas porque é que vocês dizem que ele era paneleiro?
C – Não se casou, pois não?
B – Também era novo!
C – Mais uma razão para ficar cá a comer gajas ao invés de mouros montados.
A – Aliás, foi o facto deles estarem montados que o atraiu para lá!
C – E tu ainda duvidas que ele era paneleiro?
B – Parece-me que vocês estão a exagerar.
A – Quer dizer; tivémos um rei.
C – Sim, mas ela é que usava as calças, que ele andava de saias.
A- Mas eu acho que esse não era paneleiro.
C – Andava de saias?
A – Andavam todos de saias.
B – Porquê? Não havia alfaiates?
C – Claro que havia! Caso contrário quem é que faria as saias?
A – Ó miúdo; era uma questão de moda!
B – Não havia calças?
A – Sim. Mas eram tipo collants.
C – Também era uma coisa assim meio bicha.
B – Mas andavam todos de saias?
A – Não. Alguns andavam de collants.
B – Mas devia haver calças sem serem collants, não?
A – Sim. A plebe andava com calças. Mas era sarrapilheira. Era péssimo. Dava cabo dos tomates.
C – Se calhar é por causa disso que os tomates são enrugados!
A – Isso não faz sentido nenhum. A sarrapilheira não faz rugas na pele!
C – Bom, mas nesse caso deviam ser bem rijos, para resistir à fricção!
B – Isso não devia dar jeito nenhum na cama; vocês já imaginam os colhões duros a bater em cheio?
A – Nessa altura as gajas também eram rijas!
C – Era tipo castanholas.
A – Os filmes porno passavam a vender as bandas sonoras.
B – Sexo não é uma orquestra.
C – Bem, mas eu quando me venho até canto!
B – Daqui a pouco estão a transformar a música em pornografia.
C – Já faltou mais! Já viste os telediscos? Há filmes porno com gajas mais vestidas.
B – Quer dizer: a música está lá só para acompanhar as gajas a despirem-se!
A – E nem sequer é preciso um poste!
C – Seja como for, isso é que seria uma diferença.
B – Olha, vem lá a nossa boleia.
A – Já não era sem tempo. Estou gelado. Daqui a pouco quem está a bater castanholas sou eu, mas com os dentes.
C – Pena que não seja como dantes; se fosse, a esta hora, estavas a ter um orgasmo.

"Little Lion Man", by Mumford and Sons



Weep for yourself, my man,
you'll never be what is in your heart
weep little lion man,
you're not as brave as you were at the start
rate yourself and rape yourself,
take all the courage you have left
wasted on fixing all the problems that you made in your own head

but it was not your fault but mine
and it was your heart on the line
i really fucked it up this time
didn't I, my dear?

tremble for yourself, my man,
you know that you have seen this all before
tremble little lion man,
you'll never settle any of your score
your grace is wasted in your face,
your boldness stands alone among the wreck
learn from your mother or else spend your days biting your own neck

but it was not your fault but mine
and it was your heart on the line
i really fucked it up this time
didn't I, my dear?