Suponho que se soubesse o que é a felicidade, não teria andado tanto tempo à procura dela. Mas andei. Investiguei. Falei com as pessoas. Ouvi. Descobri que para uns, reside na conquista. Para outros, no gozar da recompensa. Conheci quem me disse que o segredo está em manter-se focado fora de si e quem afirmasse, que pelo contrário, exige o egoísmo individualista de quem considera apenas a sua necessidade. Houve quem me tenha dito que precisava de objectivos com os quais se comprometer, assim como houve quem tenha jurado, que a mesma dependia do afecto dos que amava. Ouvi dizer que ser feliz, dependia de se encontrar algo que desse prazer fazê-lo e fazer. Que cada um tinha de manter vivo em si o entusiasmo, com esforço e resignação, se necessário. Cheguei a assistir a uma conferência, onde foi apresentada a tese que a dava, à felicidade, como sintetizável, que é como quem diz, fabricável em qualquer formato. Noutra, foi dito que a infelicidade é consequência dos excessos de escolhas, gerando uma ansiedade com o estatuto, que privava o sujeito da fruição. Que a felicidade dependia da capacidade de evitar a dor e de desfrutar do prazer.
Para ser feliz, uma pessoa devia evitar constrangimentos, exprimir-se sem reserva, emancipando-se dos ideais, como acto supremo de libertação. A ética dos meus pais era um código que definia à priori o que devia ser feito. Dissipava a incerteza, é certo, mas também priva o indivíduo do direito à decisão. A auto-afirmação exige a ruptura com limites estreitos.
Só entregue a si mesmo, uma pessoa pode ter controlo sobre o contingente da sua vida. Só a independência da moral subjectiva, tem o poder de libertar recalcamentos de desejos insatisfeitos. Aceitar o benefício directo é procurar a satisfação no presente. Para quem procura a felicidade, a única preocupação a ter com o futuro é deixar-se preocupações excessivas. Só assim se está disponível para aproveitar sem remorsos, as oportunidades que forem surgindo, entre tudo aquilo que há a experimentar. Para ser livre, é importante o desprendimento emocional que evita a decepção, pois só a indiferença permite manter afastadas as tensões passíveis de causar a preocupação que impede a felicidade de ser vivida. Para ser feliz, há que se deixar levar pela sinceridade do inconsciente, desde que essa não seja demasiado assertiva ou séria, uma vez que isso era pouco descontraído, e ser descontraído, era a única forma sancionada de ser autêntico, que no fundo, era o que todos queriam ser, porque só o único é insubstituível.
Tive tanto medo de não o ser, que me concentrei em evitá-lo, tendo com esse esforço transformado o que devia ser um direito, a felicidade, num dever. Na minha busca de autenticidade, aderi à convenção, porque se estivesse com os outros, não estaria sozinho. É óbvio que tive consciência que ao fazê-lo, estava a contrariar a própria definição de ser autêntico, como único, porque estava a ser igual a todos os outros. Mas ser igual como eles é a única diferença que os grupos estão dispostos a suportar, para quem a eles quer pertencer. Eu pertenci, claro, aceitando que devia conter a intensidade emocional que conduzia ao descontrolo, porque isso não era ser descontraído e ninguém gosta de pessoas que não são autênticas da mesma maneira que elas. Mas o que é que eu havia de fazer? Ficar sozinho assustava-me mais. Todos os grupos têm a capacidade de controlar os seus membros, se lhes incutirem o medo de existirem sozinhos, como aconteceu comigo, que de tanto procurar a liberdade que me faria feliz, sujeitei-me à regra que se limitava a evitar o sofrimento.
Devia evitar o envolvimento. Porque quanto mais se investe, mais se sofre. Mas se não se investe, não se sente. E o que é a felicidade Senão o sentimento de estar vivo? Sentir é como sair para fora de si e abraçar o que o rodeia. É aceitar que não se controla, com esperança do que de bom possa vir dessa aparente vulnerabilidade. Só que para aceitá-lo, é preciso uma coragem, que em mim, tardou em chegar.
Aos poucos, das contradições formaram-se paradoxos. Instalou-se uma perturbação pouco nítida, difusa e invasora, que me deixou insensível ao acto de existir. O esvaziamento das emoções trouxe a incapacidade de compreender outra coisa que não a retribuição imediata, exacerbando o horror do sacrifício, ao retirar qualquer sentido à dor, que depende sempre de prazos longos, para ser recompensada.
Foi só depois de conseguir ver isso, que entendi que não há receitas infalíveis. Tenta-se agira da melhor forma tendo em conta o que se sabe, aceitando que a felicidade, como tudo o que interessa, é imprevisível, construindo-se a si mesma, por conta do indivíduo.
Cresci quando passei a aceitar que o caos existe como um estado não controlável, onde tudo pode acontecer, no equilíbrio entre o conforto e a excitação.
Evoluí quando percebi que não há regras fixas para ser feliz, como não há mapas para como viver, só as estradas que se fazem, à medida que por elas vamos caminhando. A verdade é que não há verdade maior que sossegue os anseios e premonições de estar errado, abandonado à minha própria inteligência e vontade.
Envelheci quando compreendi que só podia contar com os meus próprios meios, para suportar os limites da minha condição. Existir tem de ser viver rumo a algo. A diferença está entre o predito e o conseguido. Pensar no que está para vir, gero o risco de expectativas, mas também torna a vida um acto de superação, que mantém viva a esperança de uma vida em aberto.
Sem arriscar o sofrimento, não há como obter prazer, porque este não vem do que é vulgar, monótono e conhecido. O risco está em todo o lado e é aquilo que tenho de enfrentar, se quero estímulos que tragam sentido ao que estou a fazer. Tudo o que posso saber sobre uma vida é uma expectativa, que só adquire realidade no que se faz.
Hoje em dia luto por ter a coragem de criar expectativas, sem cair na tentação de impedir a sua realização, com a falta de fé de quem receia falhar.
Quantas vezes me senti ridículo por fazer algo que queria. Que me envergonhei por assumir um desejo. Por enfrentar a rejeição de frente, continuando a existir. Todas as vezes que sofri, garanti a mim mesmo que não voltaria a passar pelo mesmo, mas a minha grande fraqueza é constatar que não tenho outra hipótese Senão continuar, pois a alternativa, é habitar na apatia de quem não sente. E não sentir, é como não viver.
É preciso muita força para continuar a acreditar que vale a pena sentir, quando as lições passadas parecem evidenciar a futilidade dos esforços. Por isso é que imprimi as palavras do mestre.
“Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes mas, não
esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo, e posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos
problemas e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da Vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para
ouvir um "não".
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...”
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
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Cláp cláp cláp (de pé, olé olé!)
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