segunda-feira, 26 de outubro de 2009

No rescaldo dos 31 anos

Tudo o que posso saber sobre a vida é uma expectativa, uma potencialidade, cheia de desejo e medo, que só adquire realidade no que acontece mais tarde.
A vontade de substituir a solidão pela coexistência é incumprível.
Quando desaparece a solidão, a coexistência vai com ela, pois o que a solidão busca na coexistência é a definição do futuro, despojando de mistério a da esperança de ser pleno e completo.
Quando se sofre, prometemos a nós mesmos, que não vamos voltar a passar pelo mesmo. Que não se vai amar mais. Que não se vai voltar a criar expectativas. Que não se vai voltar a sofrer.

A necessidade de escolha não tem receitas infalíveis. Tentamos agir bem sem garantias de resultado. É uma certeza interminável. Uma decisão solitária, que torna fundamental a ideia de perdão, porque essa é a única hipótese que há para diminuir a presença do abismo sobre o qual não pode ser lançada mais do que uma instável ponte. E como tudo é incontrolável e imprevisível, a felicidade não pode deixar de ser infundada. Constrói-se a si mesmo, Diariamente. Deixa por conta do indivíduo que age, a tarefa de descobrir e aplicar o princípio que se adeqúe às circunstâncias. Somos forçados a enfrentar a nossa autonomia.

Crescer é aprender a viver com o caos. Crescer é aprender a viver no equilíbrio entre a necessidade de conforto e a necessidade de excitação. Uma ameaça constante que há em aceitar que só há as estradas que fazemos, que se fazem, ao caminharmos por elas. Não há verdade maior que sossegue os anseios e premonições, algo que garanta o afastamento do erro. Estamos abandonados à nossa própria inteligência e vontade.

Andei a mascarar uma realidade de uma ordem humana incapaz de suportar o só poder contar com os seus meios para justificar os limites da sua existência. Uma dependência em relação a coisas e processos que não posso produzir, controlar ou prever.

Foi um erro que por preguiça, medo ou conforto, tenha deixado de acreditar no futuro. Existir é como viver rumo a algo. A diferença está entre o predito e o efectivo. Pensar no que está para vir torna a vida um acto de superação. Mantém viva a esperança de plenitude, mantendo a vida em aberto, incompleta.

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