quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A solidão, sei-o hoje, é irremediável.

Foi preciso passar por tudo isto para compreender que as relações não servem para nos proteger das nossas fraquezas, nem para nos libertarem da ilusão que temos de nos salvar da solidão. No fundo, estamos irremediavelmente sós, condenados a viver uma condição total, como uma situação passageira.

Não sei se já aprendi a aceitá-la como parte do integrante do que sou, mas sei que luto diariamente por deixar de a ver como uma dor à qual preciso escapar. Se amar é dar sem pedir e partilhar sem expectativa de receber, então não sei se alguma vez amei, porque toda a vida usei das relações para compensar o que julgava me faltar, exigindo atenção e tornando-me dependente de outro, concentrado que estava em tirar para preencher, ao invés de viver, acabando a suportar relações vazias, apenas pelo medo de estar só, gravitando à volta desta dependência, convencido que a felicidade me esperava do outro lado, do lado onde havia outro, do lado, onde não estava só.

A solidão, sei-o hoje, é irremediável.
Depender dos outros para a minha satisfação emocional, é a minha maior carência e a causa que me levou a projectar nelas, nas relações, as minhas inseguranças, transformando-as em experiências sofridas de perda e ruptura.
A solidão, sei-o hoje, é irremediável.
Não sei se é possível viver as relações como o encontro entre dois seres conscientes da sua condição individual, que se juntam para partilhar, mais que para exigir.
Ninguém nos pode libertar de um isolamento que não se pode atravessar.
Ninguém pode ser libertado de algo que não é uma prisão.
Dele, não há salvação, porque é um destino irrevogável, não uma etapa circunstancial.
E ao destino, há apenas a possibilidade de o enfrentar aceitando.

Perguntam-me porque me isolo, me isolei, porque deixei de dar, de procurar, de me mostrar.
Desconheço se é possível a auto-satisfação emocional. Mas toda a gente morre só, por muito acompanhado que se tenha estado. Não se pense que estou com isto a a antecipar a morte. Não. Estou apenas a tentar aprender a viver com algo, que é tão irredutível quanto esta.

O que tenho para dar, é aquilo que sou. E o que sou é a minha riqueza. Desisti de tentar mostrá-la, exibi-la, seduzi-la, a partir do momento em que aceitei que a única forma de não me sentir só, é aprender a deixar de procurar nos outros, a cura para essa dor.
O que é inevitável, pouco mais deixa a fazer que não aceitar.

Se calhar a vida não passa de um conjunto de acontecimentos sem simbologia, que por apenas existirem por si sós, retiram todo o sentido ao acto de sofrer. Desconfio que só nos momentos de dor e fraqueza, é que reconheço o humano que há no outro. Desisti de fugir da dor, no dia em que o compreendi que isso só me afastava daquilo que a ela me unia.

A solidão, sei-o hoje, é irremediável.

6 comentários:

  1. É tão inevitável como a própria morte.

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  2. Eu ainda acredito que não é bem assim. Não por querer ir contra o que escreveste, até porque o compreendo na totalidade, mas porque preciso de acreditar. É que se a solidão que sinto for mesmo irremediável, não sei como vou conseguir habituar-me a ela...

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  3. Mas é exactamente disso que estou a falar.

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  4. Os teus argumentos, como sempre são tão sentidos, lúcidos e por isso tão arrebatadores. Claro que concordo com tudo. Não deixas margem, um argumento. Tornas absoluto.
    Resta acreditar que Deus não nos colocou neste mundo para viver-mos sós. Se assim fosse, não existiam relações, ninguém precisava da experiência de sentir a unidade. O amor é o mistério, o amor é a fé. Essa não tem argumentos.
    E sim, mais do mesmo, blá blá blá :)
    beijos coisa linda

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  5. "Não sei se é possível viver as relações como o encontro entre dois seres conscientes da sua condição individual, que se juntam para partilhar, mais que para exigir."
    No fundo é aqui que queria chegar com a conversa um pouco atabalhoada anterior. É possível, mas só com desprendimento pessoal total que apenas encontrei na fé, conseguimos aceitar não exigir.

    E se quando se compreende algo, deixa de existir, a solidão já não existe em ti.
    Espero :)
    bj

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