Perguntaram-me ontem o que me comove.
Sem saber o que responder, respondi na mesma.
Comove-me a solidão, acho eu.
A impotência.
A derrota de um homem digno às mãos um problema maior.
O desespero.
A aceitação da dor e a iminência da morte.
O fim, repleto de solidão e isolamento.
Os seres invisíveis que sofrem em abstracto.
Os homens desesperados que lutam por algo mais, mesmo sabendo que jamais irão triunfar.
Um gesto, como o da miúda que apertava os sapatos do irmão, ou o da minha avó a arranjar com cautela a gravata do meu avô, que se deixou engravatar, tanto por hábito como por direito.
O sorriso dela, quando me olhava envergonhada, perante algo que queria, sem saber se devia, dizer.
A forma como se espreguiçava, solta, livre, esticando-se na praia, na cama, no sofá.
Comove-me a preocupação que se manifesta no carinho.
Na despedida.
Na certeza de que há gestos e palavras que serão os últimos.
Comove-me a incerteza. O descontrolo.
Os acontecimento terríveis e autênticos, fantásticos e inesquecíveis.
As palavras segredadas em cumplicidade de ouvido.
O olhar por detrás das cortinas.
A insegurança de uma declaração.
A manifestação de um sentimento, profundo, honesto, irredutível.
E a beleza. A beleza de coisas simples que se vivem apreciando.
Que transformam a vida em algo mais que simples factos sucedâneos.
A fragilidade e a coragem de quem a aceita.
E o fim. A certeza do mesmo.
E a dignidade ferida de quem o enfrenta, só, de rosto descoberto, a revelação daquilo que se é, se sente, se faz, se vive.
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
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olha, tu comoves-me.
ResponderEliminarpela força, determinação, astúcia, amor, capacidade de ver a beleza onde mais ninguém a notaria.
por seres o rio cheio de sedimentos, e que não pára de correr.
Uma pergunta pertinente é também "O que me move?"_\\
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