quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Uma amostra do que está para vir

EPISÓDIO 11

Esta semana, corri com a Isabel cá de casa, depois de lhe ter explicado pela enésima vez, que não a queria voltar a ver. O que acontecera entre nós, passou-se numa altura em que as frustrações acumuladas, me levaram a procurar uma relação inofensiva. Quando a mesma evoluiu para o oposto, deixou de fazer sentido. Mesmo respeitando-a por fazer parte da minha história, já lá vão cinco anos. Esta tendência dela de regularmente voltar, para se por de novo a jeito, é um tipo de masoquismo, pelo qual tenho cada vez menos apreço.

Não a recebi bem. Não podia. E ela sabia disso. Aliás, ser maltratada, era uma componente essencial do seu ritual de sacrifício. Desconfio que acredite que a sua abnegação me iriam levar a reconsiderar, embora não consiga perceber onde vai ela buscar indícios de que tal seja possível de acontecer. Era uma visita tão inesperada como indesejada, e eu não lho escondi.

- Isabel, quantas vezes preciso de dizer, que não tenho qualquer interesse em estar contigo?

Ela foi uma das experiências mais desagradáveis que tive na vida, que não tenha envolvido hospitais. Tirando o mês que passámos em Donostia, logo a seguir a nos termos envolvido pela primeira vez, na arrecadação de casa de uma portuguesa que lá conhecemos, durante uma festa, nós nunca mais nos demos bem. Ela irritava-me, qualidade essa que nunca perdeu. Era exagerada, desequilibrada. E como se isso não bastasse, não via a incompatibilidade, como uma justificação para a ruptura.

Quando atingimos o limite do insustentável, pus fim à relação. A decisão, só a tornou mais insuportável. Começou a ligar-me a toda a hora, de tal modo, que acabei a mudar de número de telefone. Ela passou então a aparecer-me em casa, de modo imprevisto e a altas horas da noite. Justificava-se com o argumento que pensara em mim na cama com outra e não suportara a visão. Ameacei fazer queixa à policia, depois de um telefonema para os pais dela, não ter surtido qualquer efeito. O cúmulo foi atingido, irrompeu pelo restaurante, no qual estava a jantar com uma ex-namorada, para me encher de insultos e acusações. Se houve alguma vez que estive perto de bater numa mulher, foi essa. Não o fiz, porque o dono do restaurante me conhecia e conseguiu metê-la na rua, deixando-me com a vergonha de explicar, porque razão andava a ser perseguido. Durou quase 9 meses, esta coisa. Sensivelmente o dobro do tempo que estivemos juntos.

Pode não parecer muito, mas foi o suficiente para me cansar das birras que fazia, sempre que por alguma razão precisava mostrar a sua reprovação, coisa que, diga-se, era bastante frequente. Do que recordo dela, é o protótipo da mulher mimada e aborrecida, que voga os dias entre a melodrama e a enxaqueca, persuadindo pelo capricho e verbalizando pelo histerismo.
Os pouco desvairos sexuais a que se permitia, eram uns ocasionais broches em locais públicos, de preferência parques de estacionamento e casa de banho de centros comerciais. Ficava excitada sempre que ia às compras. E se eu a acompanhava, era para não perder esses escassos momentos. Porque fora eles, ela é daquele tipo de pessoas que passa aos lado da vida, enquanto faz grandiosos planos sobre como vivê-la. Senti-me intoxicado. Larguei-a de vez. E mesmo após a policia e as ameaças, ela continuou a aparecer. Deixou-se de perseguições, mas sempre que arranjava uma novo namorado, fazia questão de mo vir anunciar. Não me tenho cansado de lhe dizer, que se pode poupar ao trabalho, mas ela não é mulher para ouvir o que não quer. Rapidamente o transforma em provas da sua vitimização, como se o objectivo de todos os outros, fosse contrariá-la.

- Tens de perceber que a vida dos outros não gira em teu redor.

Escusado será dizer, que isso ela também não ouviu. Se há mulher que personifica o ouvido selectivo, é ela. E isso, deixem-me que esclareça, não é coisa que me atraía por ai alem.

Cada vez que me lembro...no princípio, foi o queridinho. Ai queridinho deixa que eu ponha, ai queridinho deixa que eu meto, deixa que eu faço. E o queridinho deixou. E quando deu por si, estava sentado à frente de dois comerciantes de hortaliça, que por sinal eram seus pais. Ambicionavam casá-la com o filho do sócio e fundir nessa união, a hereditariedade das couves.

- Com que então, quer namorar a minha filha...!

Quer dizer, querer, não queria, mas que estava ali sentado, estava. Tenho a dizer que se mais fosse preciso, o que nem era o caso, conhecer os pais dela, foi motivação suficiente para saber, que não queria aquela mulher. Uma vez, na escola, um dos padres tinha-me dito que as pessoas queriam-se claras e directas. Respondi-lhe que isso era só para aquelas que não conseguiam ser eufemísticas e complexas. Levei logo um estalo, para “não estar a armar-me em esperto”. Os pais dela, tinham o mesmo tipo de intolerância.

Foi por tudo isto, que a informei que precisávamos de falar.

- Sabes quando as maravilhas do amor, nos levam a ver nos defeitos do outro a sua beleza? – perguntei-lhe.
- Sim. – respondeu ela, deliciada.
- Contigo, nunca tive isso.

Não sei se a tentativa dela de usar os outros começou aí, ou se já vinha de trás. Sei que namorou com dois conhecidos meus. Foi para ma dizer que tinha começado a namorar com o terceiro, que me apareceu cá em casa, sem pré-aviso.

- Quantas vezes preciso de te dizer, que não estou minimamente interessado em saber com quem é que tu andas?!
- Não tens ciúmes?
- Se é para mos fazeres que estás com ele, bem o podes deixar que não tenho nenhuns.
- Não és capaz de amar! – queixou-se ela.
- Claro que sou; só não a ti! – respondi.

E mesmo depois de ter sido desagradável, tive de a empurrar para fora de casa, já que ela, por si, não achava que o meu comportamento fosse razão para tanto. É por este tipo de situações que às vezes acho, que devia comprar um cão.

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