terça-feira, 18 de agosto de 2009

Soluções e identidades

Cresci a ouvir dizer que uma pessoa devia escolher aquilo que queria ser ou adaptar-se àquilo que lhe era exigido que fosse, comportando-se de acordo com esse padrão. Confesso que sempre tive alguma dificuldade em escolher o que queria ser, porque sempre me senti atraído pela curiosidade natural de explorar tudo o que há para ser. Reconheço que se a identidade está naquilo que se mantém constante e que o instinto nos impele a sermos coerentes com a nossa história, então terei de aceitar que este, é o traço de carácter mais marcado que possuo.

Nunca tive dúvidas em compreender a razão de ser dos rótulos. É uma necessidade biológica que se transforma numa vantagem operativa. Mas para mim, a identidade, não é imutável. Quando estudei filosofia, uma dos problemas mais debatidas, era o do barco. Havia um barco que saía de um porto para uma longa viagem. Cada vez que parava, trocava uma parte do barco. Quando regressou ao porto de origem já tinha trocado todas as partes que inicialmente o compunham. A questão que se punha era se o barco ainda era o mesmo, ou seja, se a identidade é um conceito, ou uma associação material. A minha resposta sempre foi que mesmo sendo conceptualmente uma única e mesma ideia, cada nova peça era uma nova experiência, pelo que mesmo nesse sentido, a identidade do barco era mutável. Pelo que a identidade, não podia ser apenas definida por aquilo que se mantinha constante. Caso contrario, a identidade seria algo demasiado geral, o que a impediria de funcionar como elementos diferenciador. A identidade está em constante construção, porque a cada momento que passa, acrescentamos algo à percepção que temos de nós próprios.

Até hoje, não mudei essa ideia. Não estou com isto a dizer que nunca precisei de estabilidade ou rotina, porque precisei, como continuo a precisar. Só que a minha rotina sempre foi vivida em contínuo, sem atribuir sentido definitivo ao que quer que fosse, como se para mim, tudo fosse temporário. Deste misto de necessidade, vontade e desejo, retirei a motivação para empreender as acções e tomar as decisões, que me levassem a sentir o que queria sentir. Pessoalmente, acabei sempre decidindo com o lado emocional. Não num sentido impulsivo ou imediato, adjectivos que, de resto, não são usados pelos outros, como definição para mim. Mas sempre que sigo uma linha puramente racional, atinjo um ponto em que as razões, acabam anulando-se umas às outras. A única forma de decidir, é usar a emoção. Com isso encontrei o fascínio de gostar, por simplesmente preferir, como se na origem do que sou, estivesse o que sinto. É evidente que os outros não podem ver o que sentimos, apenas o que fazemos para os expressar.

Talvez isto justifique de um modo simplista, a razão pela qual acho importante estar preparado para a mudança. Para mim isso traduz-se em privilegiar a irracionalidade de um gosto, que não está refém de razões conscientes, para se sujeitar à lógica sequencial dos actos. O difícil para mim nunca foi implementar soluções. O difícil sempre foi decidir qual dos estímulos privilegiar.

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