Robinson Crusoe é mais que um náufrago. É um aventureiro, que ao longo dos episódios que constituem a sua história, repete continuamente o mesmo pecado: o de não se satisfazer com a sua posição modesta e burguesa.
Ao invés disso, ele parte à conquista de mais, quase morrendo afogado, sendo feito escravo, até conseguir finalmente o sucesso, na forma de uma quinta brasileira.
No entanto, este sucesso revela-se insuficiente e a sua inquietude misturada com o desejo de mais, fá-lo partir de novo à procura de mais, sacrificando o que conseguira, acabando por fim na ilha, naufragado e só.
Uma vez lá, entregue ás suas considerações, entende o seu destino com um castigo pela sua rebelião contra a ordem. Influenciado pelo puritanismo burguês, ele entrega-se à auto análise, reproduzindo aos poucos a história da humanidade.
Primeiro o domínio do homem sobre a natureza, da agricultura à pecuária, inaugurando a instrumentalização em prol da auto conservação, conforme fez a sociedade burguesa da revolução industrial. Passa a administrar o seu tempo, entregando-se ao trabalho, de acordo com um processo: observação da sua vida, desenvolvimento de um método e criação de uma estabilidade.
O resultado final, reproduz o estado actual da civilização, quase uma inevitabilidade perante a natureza do modelo burguês: a solidão social, o autocontrolo, a organização metódica da sua vida, a independência e a inventividade técnica, destinada a reproduzir um estado de coisas, não satisfatório, mas estável, longe das atribulações de quem provoca a ordem.
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